Cadernos NAUI > Edições anteriores > Vol. 5, n˚ 9, jul-dez 2016
ISSN 2358-2448
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Apresentação
Este novo número da revista Cadernos Naui reúne cinco artigos e uma entrevista. Três desses artigos focam seu olhar sobre o patrimônio cultural. O ensaio de Rosilene F. Pereira (Rosi Waikon), “Cerimônia do Dabucuri: uma reflexão sobre patrimônio imaterial do Alto Rio Negro” apresenta o Dabucuri como um ritual milenar dos povos indígenas do Alto Rio Negro, Amazonas. O Dabucuri, segundo a autora, envolve um rol de conhecimentos tais como as narrativas de criação da humanidade, territórios, casas ancestrais, alianças matrimoniais, ritos de passagens, origens das roças, mandioca, pupunha, umari, dos pássaros, animais, seres míticos, astros, estrelas, rios e da mata. No entanto, há uma perda progressiva de esses saberes fato que se alastra desde a época colonial quando os povos foram proibidos de realizar as cerimônias, Pereira nos revela que as festas têm continuado sendo realizadas nos centros comunitários das comunidades.
O artigo “Coleção Garibaldina: intermediações e construções em um patrimônio catarinense” de Fábio Andreas Richter procura abordar questões que envolveram a constituição e o reconhecimento de uma coleção de objetos relacionados ao casal Giuseppe e Anita Garibaldi, com sua elevação a patrimônio cultural catarinense e subsequente compra pelo governo estadual. O caso da Coleção Garibaldina defende Richter, permite uma série de reflexões sobre atitudes humanas e suas consequências sociais nas relações estabelecidas com bens simbólicos em termos individuais e grupais, especialmente pelo fato dela ter sido considerada, como justificativa para seu processo de compra, um patrimônio do estado de Santa Catarina.
Felipe Antônio de Souza em seu texto, “Fotografias vivas: análise visual da representação de Florianópolis em mídia digital” se propõe analisar através de imagens encontradas na internet sobre a cidade de Florianópolis: o centro da cidade, cartões postais e seu patrimônio cultural. O autor evidencia a existência de uma constante retirada das pessoas dos espaços públicos, não conduzindo conforme ele, com a realidade da cidade. Entre suas considerações afirma que alguns dos locais encontrados nas imagens tendem a ser mostrados como mais íntimos e pessoais, como praias e o centro da cidade, enquanto os patrimônios culturais tendem a ser representados com mais poder sobre o leitor num intuito de levar consigo seu peso histórico e cultural.
O quarto artigo direciona seu foco sobre formas de apreensão das dinâmicas urbanas.Diego Pontes em “O fragmento enquanto método de apreensão da cidade contemporânea” nos propõe refletir sobre a figura conceitual do fragmento como meio de apreensão das dinâmicas urbanas, que se destaca por seu caráter de renúncia a cronologias lineares, diz o autor. E também por assumir a incompletude, a desorientação, e a fugacidade como características elementares para análise da cidade contemporânea. Na sua reflexão baseia-se na ótica residual e em passagens de Walter Benjamin que lhe permite dialogar com novas lógicas, abordagens e instrumentos teóricos e metodológicos. Pontes argumenta que narrar e apreender o espaço urbano por montagens e fragmentos residuais possibilita a criação de espaços outros derivados de experiências espaciais, corporais e sensoriais que, por meio dessas narrativas, frisam que a cidade está viva e que é experienciada pelos seus diversos tipos de usuários.
O quinto e último artigo deste número se debruça sobre a problemática da dimensão ambiental. Gilvana da Silva Machado e Ariane Kuhnen “A Sustentabilidade da Qualidade de Vida envolve a congruência entre as dimensões ambiental, social e econômica de correntes e futuras gerações”. Machado e Kuknen partem do pressuposto de que os lugares são muito mais que um mero pano de fundo para experiências, e que mudanças ambientais podem resultar num grande impacto sobre o modo dos sujeitos estruturarem seus relacionamentos com seus entornos. Nesse viés e na mira do processo de transformação que vem ocorrendo em áreas costeiras, as autoras estudam a comunidade tradicional açoriana do “Morro do Jacinto”, situada na Ilha de Florianópolis/SC às margens de um canal, povoada na sua maioria por moradores nascidos no local, mas com a seguinte particularidade, a de ser partícipe de conflitos por projetos de empreendimentos alheios para essa região da Ilha. Para o desenvolvimento do trabalho foi feito o Mapeamento de Transectos que as autoras afirmam ter se mostrado adequado para acessar informações espontâneas sobre o modo de vida, práticas sociais, relação entre pessoas e seus ambientes de entorno, assim como as perspectivas destas pessoas para o desenvolvimento no local, favorecendo a prospecção e a análise da sustentabilidade da qualidade de vida em diferentes locais.
Finalmente, a entrevista de Caetano de Freitas Medeiros com o paisagista José Tabacow nos leva a uma importante reflexão sobre os cruzamentos da Arquitetura com o Paisagismo e a Geografia. Mais importante ainda porque a trajetória de Tabacow tem como pano de fundo a intimidade do entrevistado com o artista plástico e paisagista recifense Roberto Burle Marx (1909-1994) – uma leitura prazerosa e reveladora do gênio do paisagismo brasileiro e mundial.
Os Editores.
Cerimônia do Dabucuri: Uma reflexão sobre patrimônio imaterial do Alto Rio Negro
Rosilene F. Pereira (Rosi Waikon) – UFSC
Coleção Garibaldina: Intermediações e construções em um patrimônio catarinense
Fábio Andreas Richter – UFSC
Fotografias vivas: Análise visual da representação de Florianópolis em mídia digital
Felipe Antônio de Souza – UFSC
O fragmento enquanto método de apreensão da cidade contemporânea
Diego Pontes – UFSC/UFPR
A qualidade de vida é sustentável? Respondendo a partir do mapeamento de transectos de autóctones de uma comunidade tradicional açoriana de uma ilha no sul do Brasil
Gilvana da Silva Machado – UFSC e Ariane Kuhnen – UFSC
Fragmentos de um caminho: Entrevista com o paisagista José Tabacow
Caetano de Freitas Medeiros – UFSC