Cadernos NAUI > Edições Anteriores > Vol. 8, n° 14, jan-jun 2019

ISSN 2358-2448

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Editora Chefe
Alicia Norma González de CastellsComissão Editorial
Alicia Norma González de Castells
Dagoberto José BordinDiagramação e formatação
Barbara Mendes Lima
Moema Cristina Parode
João Vitor SalvannCapa
Moema Cristina Parode

Foto de Capa
Tiago Nazario de Wergenes

Ficha Técnica

Cadernos NAUI – Revista Eletrônica de trabalhos
acadêmicos do Núcleo de Dinâmicas Urbanas e
Patrimônio Cultural (NAUI) do Programa de
Pós-Graduação em Antropologia Social
(PPGAS) do Departamento de Antropologia vinculado
ao Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Universidade Federal de Santa Catarina
Trindade – Florianópolis/SC CEP 88010-970

Contato: cadernosnaui@gmail.com


Apresentação

Dossiê “Ecos e reverberações patrimoniais”

O dossiê dos Cadernos NAUI intitulado “Ecos e reverberações patrimoniais”, como o nome sugere, e por meio das reflexões e da criatividade de seus autores, pretende trazer para leitura temas patrimoniais que são resultados de discussões, por vezes acaloradas, mantidas no primeiro semestre do ano letivo de 2018, no transcorrer da disciplina Antropologia e Patrimônio, do PPGAS/UFSC[1].

A particularidade desses encontros foi o estreito diálogo estabelecido entre diversas áreas do conhecimento, a História, a Arquitetura e o Urbanismo, as Ciências Sociais e o Teatro, em volta do patrimônio, sob a égide da teoria antropológica. Em cada um desses períodos, procurou-se sempre encontrar pontos nevrálgicos da teoria, à luz das várias perspectivas, no intuito, também, de encontrar consensos analíticos.

A diferença de vozes não responde somente às diferentes áreas disciplinares e, sim, aos contextos de socialização acadêmica desses mesmos integrantes procedentes de vários países: Angola, Cuba, Argentina e Brasil. Essa diversidade, parte inerente do fazer antropológico, abriu as portas para elaborar temáticas e perspectivas sobre o campo patrimonial. Nesse contexto, o dossiê “Ecos e reverberações patrimoniais” reúne os saberes e as perspectivas de cinco participantes desses encontros.

Joaquim Paka Massanga, em “O poder da imagem e o valor dos bens patrimoniais: Para e na (re)interpretação e (re)leitura do património cultural angolano”, tomando como inspiração artigo de Silveira e Lima Filho (2005)[2], faz uma (re)leitura e (re)interpretação sobre o patrimônio cultural angolano, dialogando com imagens dessas culturas, artes e realidades. Ele se apóia em Martins & Tavares (2017), que defendem que a natureza dos objetos, mesmo distantes de suas vivências e de sua realidade, são susceptíveis de uma análise biográfica que aluda ao seu status, período, cultura e outras possíveis abordagens. Baseando-se em Velho (2006) e Gonçalves (2007), conclui que abordar o patrimônio que está imerso sempre num terreno de negociações implica focar tanto na materialidade dos objetos como nas vivências do lugar e de suas gentes. E comparte o pressuposto de que os bens patrimoniais não servem apenas para ser contemplados, mas para ser vividos, usados e experimentados.

Em “Cartas a Freddy: Patrimonialización, sus motivos y resonancias en Pelusín del Monte como Títere Nacional”, Liliana Pérez Recio encena um diálogo epistolar com Freddy Artiles (1946-2009), dramaturgo, professor e pesquisador cubano que concebeu na sua tese doutoral um personagem-títere do repertório teatral cubano sob o reconhecimento de títere nacional “símbolo de cubanía”. Ainda que o reconhecimento de Pelusín del Monte como títere nacional não tenha recebido o atributo de patrimônio imaterial da nação, alcançou mesmo assim ressonância entre a comunidade teatral cubana. A autora defende que esse reconhecimento significa uma reparação histórica que permite construir uma noção de identidade em relação à época e aos grupos envolvidos. O diálogo epistolar proposto pela autora lhe permite estabelecer uma discussão profícua com representantes do patrimônio.

Tiago Nazario de Wergenes, em “Patrimônio, memória e tensões no espaço urbano: A requalificação do pátio ferroviário de Caçador-SC”, foca nos processos de gentrificação urbana, fundamentalmente naqueles que envolvem áreas de interesse histórico. Conforme o autor, “no contexto pós-moderno, em que a cultura e as cidades se transformaram em mercadoria, as áreas históricas entraram no processo como produto cultural”. Com o agravante de que “o processo afasta das áreas históricas os seus antigos habitantes, aqueles que carregam a memória do lugar, os significados dados ao patrimônio” e os locais terminam sendo alvo de “higienizações urbanas”. Como contrapartida, o patrimônio, afastado das relações sociais das quais fazia parte e que lhe atribuíam sentido, torna-se mero “cenário diante do turista”. Wergenes conclui que, na requalificação do pátio ferroviário de Caçador-SC, a intervenção nesse espaço, representou a retomada de seu controle por parte dos grupos que dominam o poder político-econômico local e a imposição da produção simbólica desses grupos manifestada pela construção de “objetos memoriais, numa ação que mostra uma visão parcial sobre a memória e a identidade de Caçador”.

Simone Harger, em “Valoração econômica do patrimônio histórico”, assim como os outros autores deste dossiê, apresenta o patrimônio como um campo de disputas e negociações: “A proteção da arquitetura histórica por agentes públicos legitimados para esse fim gera impactos culturais, sociais e econômicos que interferem fortemente na relação dos cidadãos com a memória construída”. Harger defende que a gestão desse patrimônio é unilateral, “pensada apenas sob uma das perspectivas”, o que deriva também na ausência de ressonância. Este artigo pretende contribuir para o melhor entendimento das relações que se formam entre técnicos, proprietários, mercado e sociedade civil.

Sergio Fernandez, em “Un acercamiento al patrimonio desde la antropología. Culturas, identidades en el marco de los procesos políticos y económicos y el lugar del conocimiento”, faz uma articulação entre o campo do patrimônio e a prática antropológica através do conceito de cultura e suas implicações, mobilizando as categorias poder, identidade, cultura e políticas públicas, sob o pressuposto de que o patrimônio pode ser incluído no debate sobre usos e destinos do conhecimento antropológico. Conforme o autor, “Estes aspectos fazem parte do fazer antropológico e, neste sentido, problematizo a relação entre prática profissional, transformação social e o lugar político que encontra a produção teórica e seus profissionais, a partir de autores que ajudam a compreender a relação entre conhecimento político e transformação social”.

[1] Disciplina Antropologia e Patrimônio, no Programa de pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGAS/UFSC). Professora Alicia Norma González de Castells.

[2] SILVEIRA, Leonel Flávio Abreu da & LIMA FILHO, Manuel Ferreira. Por uma antropologia do objeto documental: entre a alma nas coisas e a coisificação do objeto. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 11, n. 23, p. 37-50, jan/jun 2005.

Os editores.


O poder da imagem e o valor dos bens patrimoniais: Para e na (re)interpretação e (re)leitura do Patrimônio cultural angolano.
Joaquim Paka Massanga – UFSC

Cartas a Freddy: Patrimonialización, sus motivos y resonancias em Pelusín del Monte como Títere Nacional.
Liliana Pérez Recio – UDESC

Patrimônio, memória e tensões no espaço urbano: a requalificação do pátio ferroviário de Caçador-SC. 
Tiago Nazario de Wergenes

Valoração Econômica do Patrimônio Histórico.
Simone Harger

Un acercamiento al patrimonio desde la antropología: culturas, identidades en el marco de los procesos políticos y económicos y el lugar del conocimiento
Sergio Fernández