Cadernos NAUI > Edições Anteriores > Vol. 4, n° 7, jul-dez 2015
ISSN 2358-2448
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Apresentação
Os espaços urbanos são resultados das articulações urdidas pelos indivíduos que vivem neles e circulam por eles. O urbano também impõe a estes indivíduos uma dinâmica peculiar e determina seu ritmo, sua pulsação e, individualmente, a própria atuação de cada um destes agentes.
Essa complexidade implica constantes desafios para as ciências sociais, de aperfeiçoamento metodológico e reflexivo.
Os artigos e o ensaio fotográfico que trazemos neste número da revista Cadernos Naui buscam entender a dinâmica da cidade através da movimentação das pessoas em sua organização para o trabalho, em suas práticas de lazer e esporte e nas formas como reivindicam e simbolizam suas memórias.
Júlio Gabriel de Sá Pereira, em “Um olhar sócio-etnográfico sobre a prática dos skatistas na Trinda (Florianópolis-SC)”, discute a maneira como o desenvolvimento das cidades contemporâneas se relaciona com a consolidação de diferentes culturas urbanas. Apoiado na análise das formas de apropriação do espaço e na construção de laços de sociabilidade entre os skatistas que frequentam a “Trinda”, o autor apresenta os principais rasgos da cultura skatista local e ressalta as interações cotidianas dos praticantes e sua relação com os discursos sobre o esporte e o meio urbano.
O artigo intitulado “Intervenção em preexistência: Estudo para consolidação e valorização da Ruína Mussi, em Laguna/SC”, de Maria Luiza Nunes Caritá e Danielle Rocha Benício, traz importante contribuição no campo do patrimônio cultural e, mais especificamente, arquitetônico, nos âmbitos prático e teórico, ao apresentar as “remanescências edilícias” em estado de ruínas. Faz uma síntese acerca dos conceitos de “preexistência” e “ruínas” para, então, adentrar ao estudo de caso, uma ruína localizada em Laguna, no Litoral Sul de Santa Catarina, um ambiente sensível devido a peculiaridades topográficas, florestais e antrópicas.
“O esvaziamento do conceito de gentrificação como estratégica política”, de Natália Fonseca de Abreu Rangel, expõe considerações dos autores clássicos sobre gentrificação, Glass, Smith e Zukin, e analisa como se dá a apropriação deste conceito pelo leigo e pelo senso comum, enquanto mostra as implicações ideológicas por trás de seu uso corriqueiro, em especial nas apropriações em relação a matérias jornalísticas e na produção de entretenimento no Rio de Janeiro. Com autores latino-americanos, a autora analisa as diferentes forças que influenciam a produção científica e pondera sobre a aderência ou abandono do conceito de gentrificação como ferramenta de compreensão do espaço urbano.
Na entrevista com o antropólogo argentino Pablo Schamber, da Universidad Nacional de Lanús, autor do clássico “De los desechos a las mercancías”, Simone Lira e Alicia Castells discorrem sobre o trabalho em suas diversas interfaces com o mundo urbano. Sua experiência na pesquisa com vários grupos de trabalhadores urbanos, em especial os coletadores de resíduos recicláveis, autoriza o autor a ressaltar alguns dos principais problemas e conflitos políticos em que eles estão envolvidos e discute sobre o lugar ocupado pelo conhecimento antropológico no mundo contemporâneo. Qual é nossa responsabilidade na descrição do trabalho do Outro, tão próximo de nossa própria realidade? Pablo Schamber é formado em Antropologia Social pela Universidad Nacional de Misiones e tem desenvolvido consultorias para órgãos públicos e privados sobre reciclagem, gestão de resíduos e indústria de reciclagem. Buscamos, na entrevista com ele, refletir sobre o papel da antropologia nos embates travados pelos diferentes grupos humanos em disputa dentro do espaço urbano.
Apropriadamente, ao final, Simone Lira nos apresenta o ensaio fotográfico intitulado “Em ziguezague: trabalho, lixo e cidade”, resultado de pesquisa realizada junto à Associação de Recicladores Pôr do Sol (ARPS), de Santa Maria, Rio Grande do Sul, em 2009. Nesse período, essa associação era composta por quatro mulheres, com as quais a autora teve a oportunidade de experimentar o trabalho de coletar lixo na rua. Nas imagens que selecionou para este ensaio, Simone Lira descreve o trabalho de coletar os recicláveis, transportá-los ao galpão de triagem, separá-los e enfardá-los. Também busca refletir sobre as subjetividades implicadas no processo de pesquisa e na construção de imagens sobre o outro.
Um olhar socioetnográfico sobre a prática dos skatistas na”Trinda” (Florianópolis/SC)
Julio Gabriel de Sá Pereira – UFSC
Intervenção em preexistência: estudo para consolidação e valorização da ruína Mussi (Laguna/SC)
Maria Luiza Nunes Caritá – UDESC
O esvaziamento do conceito de gentrificação como estratégia política
Natalia Fonseca de Abreu Rangel – UFSC
Trabalhadores urbanos e o exercício da profissão de Antropólogo
Entrevista com Pablo Schamber
Em zigue-zague: trabalho, lixo e cidade
Ensaio fotográfico de Simone Lira da Silva