Cadernos NAUI > Edições Anteriores > Vol. 4, n° 6, jan-jun 2015

ISSN 2358-2448

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CADERNOS NAUI CAPA Editora Chefe
Alicia Norma González de CastellsComissão Editorial
Caetano de Freitas Medeiros
Dagoberto José Bordin
Mariela Felisbino da SilveiraRevisão de Texto
Alicia Norma González de Castells
Ana Cristina Rodrigues Guimarães
Caetano de Freitas Medeiros
Dagoberto José Bordin
Fátima Satsuki Araújo
Mariela Felisbino da Silveira

Diagramação e formatação
Caetano de Freitas Medeiros
Simone Lira Silva

Capa
Caetano de Freitas Medeiros

Foto de Capa
Arquivo Histórico de Joinville/SC

Ficha Técnica
Cadernos NAUI – Revista Eletrônica de trabalhos acadêmicos do Núcleo
de Dinâmicas Urbanas e Patrimônio Cultural (NAUI) do Programa
de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) do Departamento
de Antropologia vinculado ao Centro de Filosofia e Ciências
Humanas (CFH) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Universidade Federal de Santa Catarina – Trindade – Florianópolis/SC
CEP 88010-970

Contato: cadernosnaui@gmail.com

Apresentação

Esta edição de Cadernos é comemorativa dos 10 anos do Núcleo de Dinâmicas Urbanas e Patrimônio Cultural (NAUI/UFSC) completados em 2014. Por isso, reúne artigos de seus pesquisadores apresentando diferentes perspectivas das experiências de construção de um trabalho acadêmico a partir da pesquisa etnográfica e abrangendo os dois eixos temáticos do núcleo.

Inauguramos com o artigo de Camila Sissa Antunes, uma das primeiras pesquisadoras no núcleo. Em seu Antropologia de afetos: sobre flores, curvas e cores da experiência de campo defende que pesquisas realizadas em contextos urbanos, especificamente nas periferias, quando se privilegia as práticas do cotidiano desde uma perspectiva dialógica, permitem ao pesquisador incursionar numa antropologia dos afetos. Conforme a autora, os discursos e suas contextualizações em termos analíticos facilitam a análise dos significados e experiências dos interlocutores entrando assim na seara da abordagem citada.

Dagoberto Bordin reflete sobre as transformações de seu objeto original em O trabalho de campo como delimitador do objeto de pesquisa. O artigo é fruto da sua tese de doutoramento no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina realizado a partir de sua investigação em duas estancias termais localizadas uma no Brasil e outra na Argentina. O que inicialmente se dirigia ao estudo da cultura termal nessas duas estâncias, sob a mudança de contexto, o trabalho de campo evidenciou, conforme o autor, que o objeto não era a cultura e/ou água termal onde deveria se focar e sim no processo que acontecia quando esse bem que dava sentido às estâncias transformava-se num bem sob a categoria do patrimônio imaterial.

Christiane Heloisa Kalb, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Interdisciplinar em Ciências Humanas/UFSC, enfrenta o desafio da pesquisa interdisciplinar em seu trabalho intitulado Do lixo à nobreza do patrimônio: a construção do objeto de pesquisa. Nele traz à tona um tema sempre muito instigante: o de pensar pesquisas de cunho interdisciplinar. Kalb explicita que nas pesquisas disciplinares se sabe de antemão quais os “limites” que se pode transcorrer e quais são os teóricos que se pode beber. Já no desafio de transitar entre diferentes áreas disciplinares adverte sobre a indeterminação temática que se pode sofrer quando da escolha do tema e sobre o sentimento de insatisfação teórico-epistemológico que pode gerar a perda de foco nas pesquisas. Ressalta, por sua vez, a necessidade de se ter consciência de que não há ainda consenso do que venha a se entender por interdisciplinaridade, dado, entre outras coisas, por não ser ainda uma prática articulada por um discurso hegemônico.

Já Mariela Felisbino da Silveira em Patrimônio e identidade cultural: percursos da (re)construção do objeto de pesquisa tem como objetivo trazer elementos para a reflexão do processo de construção e reconstrução do objeto e dos objetivos de pesquisa no percurso da vida acadêmica. Especificamente, diz Silveira, apresentar questões ligadas às nuanças e subjetividades do trabalho de campo e do lugar do antropólogo em contextos culturais familiares. A autora revela que em sua trajetória acadêmica vivenciou propositalmente o dentro e fora desse universo familiar, paralelamente à necessidade de resgatar a história da sua família. A contrapartida desse percurso dentro-fora significou agir na desconstrução de sua visão de mundo nativa.

Mestrando do Programa de Pós-graduação em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade, Diego Pontes Gonçalves em Percursos sobre o corpo e a cidade, pensando o gênero e a sexualidade enquanto diferenciais na experiência urbana contemporânea, discute a relação entre a arquitetura dos corpos e da cidade. Para tal, propõe recompor percursos de sua pesquisa no intuito de revisitar notas etnográficas e tensionar o que considera aspectos relevantes para seu objeto em relação ao próprio método etnográfico. Utiliza-se da noção do flâneur e das errâncias urbana na leitura proposta dos corpos e da cidade. Assume o social a partir do desejo, encarando-o enquanto histórico e socialmente construído, evidenciando a relação da sexualidade e o território.

Memória e história: Os fantasmas da Casa Museu Gilberto Freyre, de Rafael de Oliveira Rodrigues, cuja trajetória como pesquisador do NAUI compreendeu a sua formação como mestre e doutor, procura desenvolver as formas de transformação que perpassam uma pesquisa. Para tal, escolhe em particular a forma como configurou seu objeto e reflexões sobre o uso do método etnográfico nos museus. Nessa seara museológica, problematiza questões de cunho metodológico sobre a construção discursiva em torno de acervos e coleções. A sua proposta reside em trabalhar, especificamente, o método de observação de detalhes mínimos, buscando por pequenos indícios, que possam guiar o olhar do pesquisador para os não ditos da escrita museal, conforme ele. Decide, então, trabalhar histórias de fantasmas concebidas como metáfora no intuito ampliar sua base analítica.

A partir dessa brevíssima descrição dos autores e seus artigos percebe-se a riqueza e a gama de trabalhos acadêmicos produzidos nesses anos de existência do NAUI coordenado pela Profa. Dra. Alicia Castells. Este dossiê passa pela cidade e sua periferia, abrange “flores”, “águas” e “fantasmas” afetados pelo afeto. Fala do estar e não estar, de idas e vindas através do turismo e da interdisciplinaridade. A identidade do pesquisador e do informante, de gênero ou cultural perpassa o patrimônio, as cidades e o museu revisitados. As trajetórias dos autores e do núcleo se encontram e nessa interseção, que constitui a vida acadêmica, produz discursos capazes de contribuir para o fazer etnográfico. A experiência única desses seis pesquisadores nos remete, para além da particularidade de cada trabalho, para a construção de um discurso do outro que não exclua a si mesmo.

Registramos, portanto, os nossos agradecimentos aos autores que colaboraram neste número e reiteramos o desafio do Naui de integrar e fazer interagir as diferentes investigações que trazem à tona a experiência urbana em seus mais diversos sentidos.

Antropologia de afetos: sobre flores, curvas e cores da experiência de campo
Camila Sissa Antunes – UNOCHAPECÓ

O trabalho de campo como delimitador do objeto de pesquisa
Dagoberto Bordin – UFSC

Do lixo à nobreza do patrimônio: a construção do objeto de pesquisa
Christiane Heloisa Kalb – UFSC

Patrimônio e identidade cultural: percursos da (re)construção do objeto de pesquisa
Mariela Felisbino da Silveira – UFSC

Percursos sobre o corpo e a cidade
Diego Pontes Golçalves – UFSC

Memória e história: Os fantasmas da Casa Museu Gilberto Freyre
Rafael de Oliveira Rodrigues – UFAL